Como provocar mudanças duradouras?

Network Profissional: O que é e como criar?
16 de outubro de 2018

Por Riberto Barros Araujo

Como provocar mudanças duradouras?

Uma reflexão sobre cultura, modelos mentais e prosperidade nacional

A cultura é uma determinante significativa da capacidade que tem um país de prosperar porque a cultura molda os pensamentos individuais sobre risco, recompensa e oportunidade. Aqui se sustenta que valores culturais são importantes no processo do progresso humano porque determinam a maneira de pensar dos indivíduos com relação ao progresso. Em particular, os valores culturais são importantes porque formam os princípios em torno dos quais a atividade econômica se organiza – e, sem atividade econômica, o progresso não é possível.

Os autores Jared Diamond, David Landes, Michael Porter e Jeffrey Sachs levantam importantes questões sobre o papel de outras variáveis que afetam o desenvolvimento econômico, como política de governo, fatores ambientais e geográficos, ocorrência de doenças, estabilidade das instituições. Outros discutem a importância da cultura para moldar atitudes sobre trabalho, confiança e autoridade — as quais influenciam o progresso humano. Mas algumas questões permanecem: Como fomentar as mudanças necessárias para criar padrões de vida consistentemente melhores no mundo em desenvolvimento, como o Brasil? Isso coloca em risco a integridade da cultura em questão? E limitaria nossa capacidade de ter nossa cultura iluminada por outras?

A fim de respondê-las, podemos dizer que consultores investem esforço considerável em aconselhar líderes empresariais e governamentais sobre modos de criar economias mais competitivas. Mesmo que tentem fazer isso respeitando as tradições e instituições locais, vezes sem conta podem apresentar fortes argumentos sobre a necessidade de mudar determinadas políticas, estratégias, ações e formas de comunicação. Na maior parte dos casos, os líderes com quem se trabalha nesses casos podem até reconhecer a validade dessa perspectiva. Entretanto, os casos relatados por Lindsay Harrison ensinam que boas respostas a questões urgentes de desenvolvimento econômico são insuficientes para provocar as mudanças necessárias para reverter tendências de economias com fraco desempenho.

Por que as pessoas tendem a resistir às mudanças?

As pessoas aceitam argumentos intelectuais, compreendem a necessidade de mudar e demonstram compromisso com a mudança, mas acabam recorrendo ao que lhes é familiar. Essa tendência a voltar ao costumeiro não é um traço cultural em si, mas indica alguns dos desafios maiores àqueles que desejam promover uma visão diferente e mais próspera do futuro.

O progresso econômico depende de mudanças no pensamento das pessoas sobre a criação de riqueza. Isso significa mudar as atitudes, crenças e suposições subjacentes que guiaram as decisões tomadas por líderes e resultaram em fraco desempenho econômico. Em seus comentários, Howard Gardner se referiu à tendência de cientistas cognitivos a tentar compreender as representações mentais usadas por indivíduos para dar sentido ao mundo. É aí que se deve começar, ao se pretender provocar mudanças duradouras. Peter Senge, entre outros, chamou essas representações de “modelos mentais”, que ele define como suposições, generalizações, ou até mesmo figuras ou imagens profundamente arraigadas que influenciam nosso entendimento do mundo e nosso modo de agir.

Recorrer a amplas generalizações sobre crenças religiosas ou sobre outras características culturais para explicar o desempenho econômico não contribui para o diálogo fértil sobre a cultura. Especialistas já usaram o confucionismo, primeiro para explicar o fracasso da Ásia, depois para explicar o seu sucesso e, finalmente, para explicar a crise asiática. Embora as discussões sobre o impacto das éticas do trabalho católica e protestante possam ocasionar observações interessantes, são abstratas demais para ter utilidade na promoção de mudanças. E sempre haverá exceções — católicos altamente bem-sucedidos e produtivos em culturas resistentes ao progresso e protestantes malsucedidos em culturas favoráveis ao progresso. É preciso ainda tornar mais clara a unidade de análise.

Algum caminho a seguir para se implementar mudanças duradoras?

Aplicar o filtro dos modelos mentais à tarefa de compreender a influência da cultura na prosperidade é um exercício útil. Modelos mentais são as crenças subjacentes que influenciam o comportamento das pessoas. Cultura é uma variável mais ampla, em nível macro. Modelos mentais são variáveis de nível micro. Modelos mentais se aplicam a indivíduos e a grupos — e são identificáveis e mutáveis. A cultura reflete a agregação de modelos mentais individuais e, por sua vez, influencia os tipos de modelo mental dos indivíduos. Os dois estão ligados em um sistema perpetuamente em evolução.

A verdadeira base da alavanca na criação da mudança pode ser ajudar a mudar os modelos mentais em nível individual, a partir daquilo que os indivíduos pensam sobre a criação de riqueza. Existe uma relação importante entre modelos mentais e prosperidade, uma relação que não força, necessariamente uma homogeneização da cultura global. Compreender essa relação será útil para apresentar um breve resumo dos desafios da prosperidade nacional, mas essa discussão ficará para o próximo artigo do Blog.

Sucesso, meus amigos!