Olá você que me lê!
Vamos em frente nessa 3ª. edição dessa sequência de textos, para a qual escolhemos ficar ao redor do magnético tema das Empresas Familiares, mais especificamente sobre as principais fontes conflitos nelas. Dessa vez iremos mais fundo no item que diz respeito aos conflitos por questões ligadas à sucessão nas empresas familiares. Oportunisticamente, vamos aproveitar e fazer ao mesmo tempo uma exploração, sem aprofundar muito, sobre a história e os personagens da Série “Succession” (sucessão) do serviço de streaming do canal HBO.
Lançada a primeira temporada em 2018 essa série se tornou, logo após a estreia, um tremendo sucesso de público e renda, levando a HBO a se decidir já de imediato pela produção da 2ª. Temporada, e depois veio a 3ª. Succession já foi vencedora dos Prêmios Emmy e Globo de Ouro na categoria Série Dramática e vários de seus atores foram igualmente premiados pela interpretação dos personagens icônicos da série.
Succession na Way Star Co.
O drama se desenvolve no conglomerado americano, multinacional e bilionário de empresas de Mídia, Cruzeiros Marítimos de luxo, Parques Temáticos e vários outros negócios com o nome de “Way Star Corporation”. Seu fundador, CEO e Chairman é Logan Roy. Seu personagem é o arquétipo do Sombra, sua personalidade é de alguém misterioso, inteligente e forte; e na sua outra face se apresenta com frequência também como alguém cruel, repugnante e egoísta. Faz mal para os filhos e para a sociedade.
Sua trajetória como empresário e pai dos quatro filhos Connor, Kendall, Shiv e Roman pode ser marcada pelos seguintes aspectos:
- Negligência no cuidado com os filhos e consigo mesmo;
- Seu único objetivo de vida é se tornar cada vez mais rico e poderoso;
- Só lhe interessa imortalizar suas conquistas, no entanto ignora solenemente as personalidades e individualidades dos filhos. Espera sim que eles sejam frios e agressivos. Adora dizer a cada um deles, “nessa situação X você não foi um autêntico killer” (matador);
- Se orgulha de ter sido capaz de prover sua família, mas não se cobra o papel de pai. Omitiu na infância deles o suporte emocional que proporcionaria a eles a chance de se tornarem adultos psicologicamente saudáveis;
- Apesar de já estar velho e doente, com cerca de 80 anos já sofreu um AVC, não reconhece em nenhum de seus quatro filhos as características que idealiza para sucessor e futuro ocupante do cargo de CEO, de tal maneira que se vê frustrado;
O principal tema explorado nas cenas em família é a ausência do afeto familiar, os filhos se converteram em adultos inautênticos e traumatizados, em contínua busca da aprovação paterna. Todos os quatro filhos, a seu modo, se mostram com sede de poder, mas nenhum deles é sério e maduro o suficiente.
Na trama ainda encontramos personagens coadjuvantes, Frank, Gerri e Karl, que fazem o papel de executivos do conglomerado que não são da família, que devotaram suas vidas e carreiras a Logan Roy, eles encarnam o arquétipo de Guardião do Limiar, são ao mesmo tempo competentes, obedientes e habilidosos, mas também receosos, chantagistas e neuróticos. Articulam para impedir que nenhum dos filhos e sucessores potenciais ascendam ao cargo máximo, por não reconhecerem que sejam eles capazes e se legitimem para a posição.
Recomendo fortemente que assistam a série, fabulosa!
Nos próximos parágrafos desenvolveremos uma exposição sobre o tema de uma maneira mais geral, aqui e alí conectando com o drama da família de Logan Roy.
Conflitos por questões ligadas à sucessão nas empresas familiares
Os conflitos em empresas familiares por questões de sucessão são bastante comuns e muitas vezes intensos, porque envolvem uma mistura de fatores emocionais, pessoais e profissionais. A sucessão em empresas familiares vai além de simplesmente escolher quem será o próximo líder; envolve definir o futuro do negócio, proteger o legado familiar e garantir a continuidade de valores e princípios estabelecidos por gerações anteriores.
Aqui estão alguns dos principais fatores que geram conflitos durante o processo de sucessão:
1. Falta de Planejamento
Muitas empresas familiares adiam ou negligenciam o planejamento sucessório, o que pode criar um ambiente de incerteza. Quando o fundador ou líder atual da empresa não define com clareza um plano de sucessão, isso pode gerar disputas entre membros da família, já que não há um caminho claro para a transição de poder. É o que se vê todo o tempo na trama de Succession. Logan Roy não quer abrir do poder que exerce no campo empresarial e político, adia e emite falsos sinais para os filhos quando está sozinho com um deles, insinuando que pode escolher qualquer um, que ainda não fechou a questão. Assim ele alimenta a rivalidade e as ações de deslealdade entre os irmãos.
2. Desigualdade Percebida
Quando a sucessão não é bem estruturada, membros da família podem sentir que não estão sendo tratados de forma justa. Muitas vezes, o sucessor escolhido não é necessariamente o mais capacitado, mas o que está mais próximo do fundador, ou que tem um relacionamento pessoal mais próximo, gerando ressentimentos. Essa percepção de injustiça pode criar rivalidades entre irmãos ou primos. Kendall Roy, o filho mais velho do segundo casamento de Logan, recebeu essa atenção especial por um tempo, mas depois lhe foi negada a confirmação. Busca refúgio nas drogas para fugir da sensação de frustração.
3. Falta de Preparação do Sucessor
Outro ponto delicado é a preparação do sucessor. Muitas vezes, o herdeiro escolhido não tem a experiência ou as habilidades necessárias para liderar a empresa, o que pode gerar dúvidas entre outros familiares e funcionários. Se o sucessor não estiver pronto, pode haver uma resistência interna à sua liderança, criando tensão tanto dentro da família quanto na organização. A busca incessante de aprovação paterna no drama dos filhos de Logan Roy faz que não lhes convenha individualmente legitimar a competência de nenhum dos irmãos, todos têm sede de poder.
4. Diferenças Geracionais
Os membros da família de gerações diferentes tendem a ter visões distintas sobre o rumo que o negócio deve tomar. Os fundadores podem ser mais conservadores e avessos a mudanças, enquanto os herdeiros mais jovens podem querer inovar, modernizar e correr mais riscos. Esse choque de mentalidades pode resultar em conflitos sobre decisões estratégicas, direção da empresa e até a cultura organizacional. Na drama da Way Star existe a diferença geracional, mas o fundador é que se dispõe a correr os maiores riscos, os filhos não são empoderados como ele.
5. Separação entre Empresa e Família
Nas empresas familiares, muitas vezes não há uma clara separação entre questões familiares e empresariais. Discussões que deveriam ser exclusivamente de negócios são influenciadas por questões emocionais, como lealdade, favoritismo ou antigas rivalidades familiares. Isso tende a complicar as decisões de sucessão, porque o processo se torna mais pessoal do que racional. No clã dos Roy os temas família e empresa e as questões mal resolvidas do passado se misturam o tempo todo, inibindo a construção de consenso em torno das melhores estratégias.
6. Relutância em Largar o Controle
O fundador ou líder atual pode ter dificuldades em passar o bastão, especialmente se construiu a empresa desde o zero. Há um medo de perder relevância ou de ver a empresa seguir em uma direção com a qual ele não concorda. Esse apego pode atrasar o processo de sucessão e gerar frustrações tanto no sucessor quanto em outros membros da família que esperam por uma transição mais ágil.
Como Mitigar Conflitos
A boa notícia é que esses conflitos podem ser mitigados com uma governança estruturada e um plano de sucessão bem elaborado:
- Planejamento Antecipado: Começar a pensar na sucessão cedo, garantindo que todos os envolvidos tenham uma visão clara do processo.
- Definição de Regras Claras: Criar políticas transparentes para a sucessão, incluindo critérios objetivos para a escolha do sucessor.
- Desenvolvimento do Sucessor: Investir no treinamento e desenvolvimento dos herdeiros, preparando-os tanto tecnicamente quanto emocionalmente para o papel.
- Governança Corporativa: Implementar mecanismos de governança, como um conselho consultivo ou administrativo, que ajudem a separar questões familiares das empresariais e possam mediar conflitos de forma mais neutra.
- Diálogo Aberto: Manter uma comunicação aberta e honesta entre os membros da família, evitando que ressentimentos ou frustrações se acumulem ao longo do tempo.
O processo de sucessão, quando bem conduzido, pode ser uma oportunidade para a renovação e crescimento da empresa, além de fortalecer os laços familiares. No entanto, sem o devido planejamento e diálogo, pode se tornar um campo minado de conflitos emocionais e profissionais que afetam não só a saúde do negócio, mas também os relacionamentos familiares.
Se você gostou do tema, ou tem uma opinião diversa e quer compartilhá-la, me deixe conhecê-la nos comentários.
Nas próximas semanas seguiremos desenvolvendo o tema dos conflitos nas empresas familiares.